Os melhores discos nacionais de 2012 (10-01)

10. Silva, Claridão

Tão esperado, o debut Claridão chegou aos ouvidos dos que acompanham o trabalho de Silva sem o toque de surpresa, já que uma metade da tracklist é formada com faixas lançadas anteriormente através do seu EP e a outra metade já poderia ser escutada em versões ao vivo (geralmente disponibilizadas no youtube) que não se diferiam muito das músicas gravadas em estúdio. Apontando uma lista de prós e contras, este é um dos poucos defeitos do disco. Constantemente comparado com artistas como James Blake, Beirut e Arcade Fire, Lúcio da Silva Souza quebra a expectativa onde soar o mais brasileiro possível seria uma ótima característica de um trabalho e preenche nossos ouvidos com a mistura perfeita das referências de todo o mundo. Compõe em bom português a descrição de sensações tão suaves quanto a sua voz e produz cada faixa num instrumental encaixando o eletrônico com o acústico. Os Violinos presentes em “A Visita”, os sintetizadores de “Mais Cedo”, as batidas da “2012” e o esforço do Silva para deixar todas as faixa impecáveis tornou o Claridão um dos melhores lançamentos de 2012.

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9. Rodrigo Campos, Bahia Fantástica

Não é apenas música popular brasileira. Quando apresentei a um amigo a faixa “Princesa do Mar”, presente no álbum Bahia Fantástica de Rodrigo Campos, ele me disse “é só MPB” e eu o respondi com a frase citada no início desse texto – sem ao menos elaborar alguns argumentos para sustentar minha afirmação. Escutando novamente o disco de Campos, percebi que, realmente, não é apenas isso. Com um talento incrível para desenvolver histórias e personagens, o cantor assina a composição das 12 faixas deste trabalho, mas não está sozinho no resto da produção. Com mais 7 parceiros (ou produtores, como assim assinam), entre eles Romulo Froés e Kiko Dinucci que junto com Rodrigo formam a Passo Torto, o cantor desenvolve o material que elaborou enquanto esteve na Bahia, convidando o ouvinte para escutá-lo completo através do instrumental impecável que vai desde batidas afro-beats, como em “Morte na Bahia”, a guitarra estridente em “Jardim Japão”, o jazz em “General Geral”, o sax que corta a voz suave do compositor em “Cinco Doces”. É a modernização da MPB sem perder o toque impecável que, outrora, Caetano, Gil e Buarque sustentavam.

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8. Vivendo do Ócio, O Pensamento é um Imã

Chuck Hipolitho e Rafael Ramos assinam a produção deste disco que, além disso, foi masterizado em Los Angeles por Brian “Big Bass” Gardner e ainda conta com a participação de Dadi (Novos Baianos) na faixa “O Mais Clichê” e da Agridoce em “Nostalgia”. Cheios de boas referências, os baianos da Vivendo do Ócio tiveram a oportunidade de aprimorar seu som neste álbum não só através das pessoas que trabalharam com a banda, mas também com o amadurecimento dos próprios integrantes. As baladas adolescentes que gritavam “Fora, Mônica” com acordes rápidos agora são substituídas por um clima de nostalgia, sem perder a atmosfera dançante e despreocupada que a banda cria, dessa vez cantadas de forma mais elaborada, a exemplo do trecho “Eu sei que é impossível / Mas seria uma solução pra mim / Trocar meu coração por um fígado / Bem que eu preciso!” da música “Preciso me Recuperar”. É neste momento que a banda se desvencilha da referência óbvia de seus trabalhos passados, os Arctic Monkeys, e se tornam uma banda de rock com identidade formada, agora eles já recebem o título de influência e passam a ser levemente influenciados por Raul Seixas, The Strokes, Foo Fighters ou Queens of the Stone Age.

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7. Black Drawing Chalks, No Dust Stuck On You

Edimar Filho. Esse cara está substituindo o Renato Cunha na guitarra do Black Drawing Chalks e foi um dos responsáveis por algumas mudanças na sonoridade do último disco dos goianos, que está longe de parecer a continuação dos dois álbuns anteriores da banda. Sob produção de Gustavo Vasquez e Fabrício Nobre, o No Dust Stuck On You soa com mais fúria, riffs e refrões poderosos e sensualidade; isso fica evidente em uma das melhores faixas do disco, a “Cut Myself In Two”, um belo combo de todas as características citadas acima. Saindo da zona de conforto, a banda surpreende com faixas levemente dançantes, como a “Disco Ghost” passando pela sombria “Swallow” (os fãs de Black Sabbath irão curtir esta) e injetando mais testosterona na tracklist com as faixas “Walking By”, “The Stalker”, “I’ve Got Your Flavor” e o refrão riot com solo de guitarra épico de “Simmer Down”. Com quase uma hora de duração e 15 tracks, o único pecado do disco é ser quase cansativo. Quase.

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6. Tom Zé, Tropicália Lixo Lógico 

Mais de 30 discos lançados, mais de 50 anos de carreira, mais de 75 anos de idade, mais gênio,  mais polêmico, mais louco. Quando falamos de Tom Zé precisamos enfrentar uma enorme divergência de opiniões, uma vez que seu trabalho aborda formas diferentes de concretizar a música. Daqueles grandes nomes da antiga MPB, alguns lançamentos surgiram, Bethânia, Gal, Caetano, Gil lançaram trabalhos recentes e, inegavelmente, bem divulgados e aceitos, mas e o Zé? Com sua prioridade para desenrolar simples contos, como em “O Motobói e Maria Clara”, faixa em que Mallu Magalhães participa, ou concretizando um quadro sobre a atualidade, como em “Tropicalea Jacta Est”, o cantor ainda brinca com a nossa língua em “Jucaju”, onde desenrola uma música inteira cantada apenas com cinco sílabas e ressalta sua inteligência e criatividade artística. A melodia se dá, principalmente  através dos ritmos das palavras. Daí diferenciamos a bossa, a mpb e até o rap (com participações de Emicida) no disco. E no meio cada música, um tapa, uma sacudida o corte bruto, o silêncio e… o final?

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5. BNegão & Seletores de Frequência, Sintoniza Lá

Esse é pra tocar no baile, se me permitem já começar parafraseando uma faixa do quinto colocado dessa lista. Cheio de groove, Bernardo Santos teve nove anos para lançar o sucessor do Enxugando o Gelo (2003) e segundo álbum do B Negão & Seletores de Frequência. São 11 faixas com inúmeras referências, seja na guitarra funkeada, no vocal rapper verborrágico, as batidas dub. Tudo guiado por metais poderosíssimos. Tem afrobeat, samba, funk, rock e reggae. É só começar a escutar o Sintoniza Lá que o corpo já tem uma “Alteração (Éa!)”, um groove que inicia a dança com o instrumental conduzido por maestria pelos seletores, tanto que a tracklist tem duas instrumentais, as “Subconsciente” e “Na tranquila” que não deixam as atenções desviarem pela falta de letra, mas abrindo espaço para a ‘versatilidade do som’, como diria B Negão na funky “Chega Pra Somar o Groove”. Não tem o que falar do disco, ‘O som tá na panela / E o fogo tá aceso’, é só apertar o play.

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4. Curumin, Arrocha

Todo gravado dentro de um estúdio improvisado na casa de Luciano Nakata, o Curumin, o disco Arrocha soa rústico, como uma compilação de incríveis idéias que precisam ser executadas de forma urgente. Isso é perceptível na curta duração da maior parte das faixas que compõem a tracklist, muitas não passam dos dois minutos de duração. Compensando a rapidez da música com uma variedade de batidas eletrônicas misturadas com batidas dançantes que o próprio título “Arrocha” sugere. O eletrônico inicia o disco bem evidente com  um “Afroxoque”, e começa a se desmanchar com o pop “Selvage”, a baladinha “Paris Vila Matilde”, a romântica “Vestido de Prata” e retomando a dança em “Sapo Cururu”. Um experimento que arrisca em muitos estilos, mas que agrega uma ótima produção aos  álbuns nacionais.

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3. Siba, Avante

Com o regionalismo sendo um ponto marcante na obra de Sérgio Veloso até então, em seus dois álbuns anteriores, a opção de parar de explorar a Mata Norte pernambucana e levar Avante outras influências poderia não dar certo – perceba que o verbo está no futuro do pretérito, mesmo tempo em que Siba usa o verbo poder na seguinte fala: “é um disco que foi feito na guitarra, mas poderia, também, não ter sido feito. Em algum momento eu iria entender que a guitarra é um meio de expressão”. Sob produção de Fernando Catatau, o cantor retoma a posição de guitarrista, que já esteve na sua antiga banda Mestre Ambrósio, sem deixar suas composições perderem traços de humor desenrolados em histórias cotidianas, construção tipicamente feita por Siba, desta vez com acordes de guitarras acompanhados pelo vocal com sotaque nordestino carregado. Em canções intimistas, o próprio cantor explica que este disco é uma reconstrução de sua história, que de tão bem contada, se banha em bronze nesta lista.

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2. Caetano Veloso, Abraçaço

Há 40 anos, o Transa – um dos maiores discos da carreira de Veloso – foi lançado e, no mesmo período, o cantor fez seu primeiro show pós-exílio, se apresentando ao público com brincos de argolas, tamancos, batom e blusa tomara-que-caia. Agora, Caetano se apresenta de cabelos brancos, 70 anos de idade, encerrando uma trilogia de álbuns (junto com Cê e Zii e Zie), agindo como o fez em toda a sua carreira: sendo pop, mas da forma mais controversa possível.   As boas metáforas para gerar polêmicas em cima de suas composições já não aparecem com tanta frequência  o imediatismo desta geração o contaminou, e, consequentemente, está impregnado nesta produção, a exemplo das poucas palavras que sintetizam muito no título “A Bossa Nova É Foda”, que carrega em seus versos diversos ícones das cultura atual – Anderson Silva, Victor Belfort – já que o compositor se diz um grande fã do MMA. E como o Caetano se repagina, mas ainda assim repassa pela fórmula certeira dos anos 70, “O Império da Lei” mostra bem isso, ainda assim há espaço para  a correnteza de homenagens, como uma faixa inteira dedicada a Marighella, “Um Comunista”, ainda citando no decorrer do disco João Gilberto, Dorothy Stang e vai além, abraçando a melancolia, afirma que ‘o lugar mais frio do rio é o meu quarto’ em “Estou Triste”. Após um início de trilogia não tão interessante, o cult-pop de Caetano reacende num disco de título, capa e canções magníficas.

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1. Céu, Caravana Sereia Bloom

Em Caravana Sereia Bloom, Céu muda de forma completa as suas maiores referências, a música afro-beat e o samba, explorando dessa vez, a música brega e o rock. A mudança fez bem a cantora, ela não se perde de jeito algum na composição, e caminha com a sonoridade nova com absoluta precisão, sem deixar de lado a essência da música dançante. Músicas como “Falta de Ar”, “Retrovisor” e “Chegar em Mim” mostram bem a fase inspiradora em termos poéticos dos versos, e ainda tratando-se da parte instrumental vale-se ressaltar o um bom uso de elementos tanto do teclado, que acompanha as maiores partes das músicas, quanto da guitarra, como os efeitos aproveitados nos breves solos.

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Os melhores discos nacionais [20-11] [10-01]

As melhores músicas nacionais [25–16] [15-01]

Os melhores clipes nacionais – [20-11] [10-01]

Vivendo do Ócio lança novo WebClipe para faixa “Eu Gastei”, confira

Direção, câmera e edição de Luca Bori (baixista da banda) dão o enredo perfeito à faixa “Eu Gastei” , presente no recentemente lançado “O Pensamento é um Imã” da Vivendo do Ócio. Todo o audiovisual foi gravado numa madrugada em São Paulo, com um personagem cativante e inusitado. Não vamos perder tempo tentando descrever essa excelente produção, assistam: