Disco: Nó na Orelha – Criolo

Em termos de referência, digamos que “Nó na Orelha”, segundo disco do Criolo, entra fácil no páreo de “melhores” ou “mais importantes” discos de 2011.

Diferenciando-se, em termos de textura musical, do Emicida e seu “Doozicabraba e a Revolução Silenciosa”, mesmo que em proporções menores e diferentes (o cantor não conseguiu tamanho reconhecimento como o Emicida, nem está em praticamente todos os festivais de grande  escala no Brasil, muito menos ganhou um programa exclusivo na MTV), “Nó Na Orelha” ainda assim serve de referencia na música brasileira por ter despertado em muitos a curiosidade de ouvir um hip hop mesclado a outros ritmos, diferente de muito do que já foi produzido nesse ou em outros anos.

Misturando violinos e pianos com tamborins do samba e reggae, as letras de “Nó na Orelha” surpreendem o público não conhecedor das composições rap, características por “chocar” ou “cutucar” a sociedade. Nisso, o disco agrada os dois tipos de ouvintes: tanto quem é fã de, digamos, Racionais MCs, quanto quem se deixa levar pelos pianos com batidas eletrônicas atrás de letras simples, porém duras.

Quando foi lançado, “Nó na Orelha” não chegou as rádios, nem bateu primeiros lugares, mas rapidamente conquistou espaço na mídia (da internet), atingindo ao mesmo tempo indies “antenados” e quem pouco conhecia, ou conhece, da musica independente no Brasil.

Nesse tempo, a canção “Não Existe Amor Em SP” se tornou um verdadeiro “lema popular”, sendo proferido em canais, redes sociais e vocais que acompanhavam Criolo em shows geralmente realizados no eixo Sul-Sudeste (o que é uma pena, já que sua música pareceu transcender esse eixo facilmente). Um dos momentos altos do artista aconteceu no Planeta Terra, quando fez um show por volta das 14h e ainda captou a atenção desde  “adolescentes na expectativa de ver Strokes” à famílias que circundavam pelo local.

“Não Existe Amor Em SP” tornou-se uma canção tão referencial que, na cerimônia do VMB, prêmio dado para artistas da música pela MTV Brasil, Criolo teve o bel prazer de tocá-la ao lado do multifacetado Caetano Veloso, marcando mais um ponto não só para a música, mas para o artista como um todo.

Se não existe amor em SP, no novo disco do Criolo não deve existir uma sequência ritmica que marca o disco inteiro – deixando-o até um pouco difícil de classificá-lo. São músicas que misturam afrobeat com dubstep eletrônico e samba de gafieira (“Linha de Frente” e “Samba Sambei”), pegam o hip hop e mesclam com melodias leves e, como o próprio define em sua descrição no Facebok, românticas (“Freguês da Meia-Noite”,  “Lion Man” e a já citada “Não Existe Amor Em SP”), mas que nunca deixam de ser contagiantes, por vezes até dançantes.

O rap pode não ser tão privilegiado, ou usado com abudância, como acontece com antes comparado Emicida, mas ninguém disse que precisa ser assim. Afinal de contas, contar histórias cotidianas de um subúrbio até então desconhecido  e rejeitado pela mídia, e falar sobre a urbanidade de uma cidade grande demais para comportar tanta gente (apenas dois dos muitos pontos abordados pelo Criolo nas canções), não precisa necessariamente vir em versos rimados e falados.

Mas ele está lá, mesmo que com uma levada diferente, mais trip hop com reggae do que rap em si. É o caso de “Sucrilhos”, na qual Criolo canta, dentre os tantos versos que constroem a música mais ‘longa’ (em termos de letra) do disco: “E cantar rap nunca foi pra homem fraco / Saber a hora de parar é pra homem sábio”.

O momento de conquista do disco fica na divertida “Mariô” e na classuda “Subiusdoistiozin”, outra faixa que compete fácil com “Não Existe Amor Em SP”. Contagiante e dançante, “Subiusdoistiozin” vem cheia de palavras “incompletas”, características da linguagem popular dominada pelo rap e hip hop. “O baguio é loco, o sol tá de rachá, vários de campana aqui na do campin” canta Criolo, que não te priva de acompanhá-lo nos “papa papá, papá papá” da canção.

Depois de perceber que, no ano que vem, segundo essa pesquisa publicada na Folha de São Paulo, as pessoas ouvirão menos rock e mais outros estilos musicais, não é tão ruim imaginar que “Nó na Orelha” deve entrar para essa gama de diferentes estilos. Mas não dá para imaginá-lo sendo tão popular para tocar nas rádios – então, calma, ainda dá tempo de degustá-lo com calma.

A sensação que dá, no final de tudo, é que esse é um disco de um artista em construção, que está saindo do rap no seu primeiro CD para abraçar outros estilos diferenciados, trazidos conjuntamente pela sua banda de apoio.

Produzido por Daniel Ganjaman e Marcelo Cabral, “Nó Na Orelha” marca não só a carreira de um cantor há 23 anos no mundo do rap (e criador do Rinha dos MCs), mas também desperta em muitos a curiosidade de ouvir hip hop com mais cuidado e respeito, deixando de lado os preconceitos moldados pela mídia (fora da internet).

Portanto, agora vale assistir o mais novo clipe do Criolo para a música “Freguês da Meia Noite”:

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